Ainda são poucas as entidades brasileiras que atuam de forma estruturada com a captação com indivíduos. Algumas alegam que dá muito trabalho, o que é verdade. Outras, que gera pouca receita, o que pode ser verdade. Mas o que parecem esquecer é que uma base de apoiadores constantes trás um elemento fundamental para qualquer entidade: legitimidade.
Muita gente tem o desejo sincero de defender uma causa, mas quer dos outros basicamente seu dinheiro e que não as incomodem. É um paradoxo. Um grupo de biólogos se reúne para proteger o beija-flor e quer simplesmente que uma fundação internacional ou uma empresa financiem o lindo trabalho de cuidarem desses Beija-Flores na restinga dos confins de algum estado brasileiro. Um grupo de senhoras da sociedade quer criar uma creche para que as crianças cresçam saudáveis e por isso buscam dinheiro de empresas da região. Outro grupo de jovens recém formados resolve criar uma ONG que trabalha com produtos feitos da borracha de pneus usados. Esses três grupos, com suas nobres causas, esquecem que além deles, mais gente deve defender essas causas. Mas eles pensam que só eles podem e devem fazer, dos outros, só querem o dinheiro.
Sou taxativo nisso: Assim o mundo que queremos mudar não mudará. Não digo que precisamos ser extremistas como o pessoal de algumas entidades, que não aceita recursos de empresas nem de governos, mas que temos sim que envolver recursos de indivíduos, isso com certeza. Não há a obrigação de fazer isso somente com a filiação de doações constantes (ainda que isso seria ideal), podemos também criar eventos de arrecadação para mobilizar pessoas a ajudar. O que sim é importante é envolver o indivíduo, o humano não institucionalizado, que não assina um cheque em nome de alguma empresa nem governo, mas sim um cheque seu, uma doação que doerá no seu bolso. E quanto mais aliados, mais legítima uma ONG é, pois conseguiu mostrar a importância de sua causa para um número significativo de pessoas.
E por onde começamos? Pelos conhecidos nossos. Não há segredo. Como convencer desconhecidos a aliar-se a nossa causa se não conseguimos convencer nossos pais nem nossas esposas ou maridos? Não importa que essas primeiras pessoas são em número pequeno no início. Todo início é pequeno. O que importa é que essas pessoas tem também conhecidos, e serão então mais pessoas buscando novos aliados. Quando convencemos de fato alguém a se aliar a uma causa, essa pessoa comenta com outros a respeito e com isso ganhamos pernas, braços e mentes. O crescimento passa a ser exponencial.
Estudos mostram que existe um alto investimento de dinheiro e tempo até alcançar a marca de aproximadamente mil apoiadores. Nessa etapa é necessário ser perseverante e saber que talvez o resultado inicial não pague o investimento inicial. Mas cabe lembrar também que doadores para causas são eminentemente fiéis, por anos, a uma instituição. Temos que fazer algo muito errado para perdê-los. E uma coisa muito errada a fazer é não dar‐lhes atenção. Cada vez mais esses apoiadores se interessam por conhecer a instituição, pedem dados, informações, resultados, notícias. Isso é muito bom, mas os agentes sociais da velha guarda vêem isso como um incômodo. Eles preferiam quando bastava fazer “o bem” com o dinheiro dos outros. Agora se perdem com esses apoiadores que os incomodam. Consigo ler seus pensamentos: “Deixem-nos fazer nosso trabalho! Sua função é me dar dinheiro, a nossa é fazer o bem!” Esses agentes, em geral, adiam ao máximo a busca de recursos com indivíduos. Preferem fazer o que sempre fizeram: Buscar recursos com fundações internacionais, ou com empresas, ou até com governos. Querem grandes quantias, para com isso ficarem tranquilos por um ano ou mais, e depois voltarem ao “mercado” pra “caçar” mais recursos. Um sistema primitivo, de apagar incêndios cada vez que o dinheiro rareia na conta. Ainda preferem isso a envolver mais cidadãos em suas causas. Pena. Essas instituições morrerão em breve. E o mais triste é que algumas causas morrerão com elas.
Após um período de consolidação na busca por novos associados, que pode levar de 1 a 3 anos, essa fonte tem uma característica fantástica: crescimento orgânico constante. Depois de mil associados, mesmo sem grandes campanhas novas, a tendência é que a cada mês entrem 4 a 12 novos associados. Geralmente também perdemos algo, mas sempre em número inferior aos novos que entraram.
Outra grande vantagem dessa fonte é que se trata de um dinheiro “não carimbado”. Em geral os recursos de governos e de fundações tem um orçamento bastante rígido e pré‐aprovado. No caso de patrocínio de empresas também ocorre de um recurso estar vinculado a determinado projeto ou programa. Mas o que fazemos se o telhado da creche desabou? Ou não tão grave, mas precisamos contratar mais algum profissional da área administrativa? Os recursos provenientes de pessoas físicas, seja por associação, seja por eventos de arrecadação ou mesmo venda de produtos, acaba sendo o recurso que nos auxilia nesses momentos.
Trabalhar com indivíduos requer tempo. Não só pelo trabalho logístico de preparar comunicações, acertar mecanismos de pagamento e retornar com agradecimentos, mas também porque é necessário um diálogo constante com esse público. Além de boletins informativos, é importante convidá-los para todos os eventos, e a comunicação deve ser “quente”, para constantemente eles se sentirem envolvidos com a causa, torcendo pelos resultados, vibrando com cada passo dado. Eles são também nosso maior incentivo a continuar. É comum as entidades receberem emails e cartas desses pequenos doadores que são mensagens levantadoras de ânimos para toda a equipe.
O mais recomendável é que exista um profissional dedicado somente a esse público. Ele pode cuidar dos voluntários da instituição também, já que uma base de apoiadores é um celeiro de oportunidades para novos eventos arrecadadores envolvendo voluntários.
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Fonte: Adaptado de Marcelo Estraviz, Um Dia de Captador.
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