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Plano de acompanhamento e fiscalização

plano de acompanhamento e fiscalização

Plano de acompanhamento e fiscalização

Dados do último censo do SUAS –  Sistema  Único  de  Assistência  Social – realizado em 2010 demonstram que 85,9% dos Conselhos Municipais de Assistência Social, considerando os 78 municípios do Espírito Santo, não regulamentaram o plano de acompanhamento e fiscalização das entidades e organizações sem fins lucrativos inscritas naqueles Conselhos. Naquele ano existiam 181 ONGs de assistência social no Espírito Santo que recebiam recursos públicos para executar  as suas atividades. Estes são dados oficiais de um órgão federal e que estão disponíveis no site do Ministério do Desenvolvimento  e Combate à Fome – MDS/CNAS.

Regulamentar, neste contexto, significa publicar normas específicas detalhando os procedimentos que serão adotados. Se não existe a regulamentação pode-se afirmar que, oficialmente, há um problema instaurado, mesmo que existam regras e requisitos para inscrição das ONGs, que tenham como objetivo prestar serviços socioassistentenciais à população, no Conselho.

Como não existe a norma publicada disciplinando a forma de acompanhamento e fiscalização dos serviços prestados pelas ONGs, os conselheiros não têm instrumento legal para verificar se o previsto nos estatutos sociais das ONGs está sendo ou não colocado em prática, e apurar o alcance e a qualidade dos serviços disponíveis. O que torna o problema ainda mais grave é que, como indica o censo, grande parte destas ONGs é financiada com recursos públicos que deveriam ser  utilizados na realização de suas atividades sociais.

Como é possível ter certeza que os recursos públicos estão sendo bem utilizados se a grande maioria  dos órgãos  encarregados  de garantir a fiscalização ainda nem criou as normas e o plano para esta ação? Existem ONGs sérias e comprometidas, mas se sabe que há também as “pilantrópicas”, e por esta razão a fiscalização legitimada pela legislação é a forma mais adequada de separar o joio do trigo.

A Política Pública de Assistência Social do Brasil foi, de fato, muito bem pensada e elaborada, mas é preciso avançar a prática para que haja garantia dos direitos conquistados.

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Fonte: Social em foco: ONGs – orientações legais e práticas / Ana Cláudia
P. Simões; Vitória: A Gazeta, 2014.

captação de recursos na web

CAPTAÇÃO VIA WEB

Sou um imigrante digital, como os teóricos tem definido. Os nativos digitais (gente que nasceu depois de 1986) são pessoas cuja vida foi pautada pela internet como algo natural. Nós, os imigrantes, estamos todo o tempo tendo que nos acostumar com essa cultura, com o idioma, com um ambiente que nos é estranho, mas é onde moramos hoje, por isso somos imigrantes.

Captação via web não é um segmento, um nicho ou uma oportunidade. É simplesmente o que se fará desde já e para sempre. Aposentaremos os correios como já aposentamos os cartões de natal. Então não se trata de decidir se vamos entrar na web e sim quando vamos entrar na web.

Faz 10 anos eu sugeria que as ONGs deveriam ter um site. Que isso era uma espécie de folheto institucional virtual. Hoje eu exijo que as entidades tenham seu site e sugiro que sua presença web seja complementada por páginas dinâmicas, espaços para participação dos leitores, envolvimento em redes sociais, mecanismos de interação, etc. Alguns denominam isso de web 2.0. Pois trata-­‐se da web criada pelos próprios usuários, desenvolvendo conteúdos, envolvendo-­‐se com o site de forma a contribuir com informações, dados e opiniões.

Hoje a ideia de ter um site como folheto institucional foi por terra. As ONGs que fizeram isso antes, achando-­se modernas, estão novamente atrasadas hoje. Pois o leitor passa pelo site e em poucos segundos vai embora pra nunca mais voltar. E então, por onde começar? Tenho a necessidade de alguém dedicado a isso? O que dizer, se nem tenho tanta novidade assim? Bem, comecemos pela última pergunta: Se não há tanta novidade assim, repense suas ações. Uma organização não pode ser uma caixa preta cuja única novidade ao mundo é que precisa de mais dinheiro. É impossível que não exista nenhuma novidade em um mês de atuação.

Alguma visita de alguém, algum passeio ao parque, um aniversário, uma festa. Tudo isso é notícia e mostra que a ONG está viva, atuante, dinâmica, relacionada ao mundo externo. E é isso que as pessoas que apóiam a entidade querem saber. Que seu dinheiro está servindo para alguma coisa.

Antes de pensar em captar pela internet, pense em oferecer coisas. E a primeira coisa que se pode oferecer é notícia fresquinha. Não adianta colocar lá um botão do tipo “doe aqui” no meio daquele site estático empoeirado. Primeiro oferecemos, depois pedimos. E oferecer notícia é barato, é de graça, aliás. Basta com mudar seu site para algo mais próximo de um site de notícias. Isso não é caro nem requer grandes conhecimentos. Junto ao novo site, comprometa-­se a enviar ao seu mailing, talvez mensalmente, as notícias mais frescas do site. Isso tem o nome de email-marketing. Mas não mande isso pra qualquer um. Mande pra quem pediu, alguém que se inscreveu no site ou na pior das hipóteses as pessoas que você conhece e estão no mailing da instituição. Sempre dê a essas pessoas a opção de não mais receber o e-mail. É um direito deles e você não quer ficar com a fama de chato, certo?

Depois que você alterou o site para algo dinâmico e passou a enviar mensagens mensais com as novidades, veja se não tem outras opções dentro do seu sistema de gerenciamento de conteúdo do site. Isso se chama CMS (Content Management System). Os sites dinâmicos funcionam utilizando-­se de CMSs e em geral vem cheios de brinquedinhos que podemos implantar: pesquisas, fóruns, comentários, etc. Não precisa
encher seu site de brinquedinhos. Use-­os com parcimônia, mas pense que cada um desses brinquedos é uma forma de fazer a pessoa ficar mais tempo no site e se envolver com a entidade. Dê aos leitores a oportunidade de participar das decisões. Pergunte a elas se preferem uma festa junina ou um leilão de arte por exemplo. Crie um fórum de discussão sobre os espaços públicos no bairro, deixe que as pessoas comentem as notícias. Quanto mais envolvente, mais carinho uma pessoa passa a ter pelo seu site, ele vira referência e assim a pessoa voltará lá mais vezes.

Depois de fazer isso é hora de captar certo? Ainda não. Falta agora envolver a entidade em outras redes sociais fora do site. Já ouviu falar em Facebook, Intagram, Youtube, Flickr, Linkedin, Twitter? Tudo isso são redes sociais, com especificidades, e que são parte da vida cotidiana dos nativos digitais. Eu não preciso ter um vídeo da minha festa de aniversário somente no meu site. Eu o publico no youtube e se quiser, posso até colocar um link do vídeo na minha página pessoal. Desta forma, a presença web de uma entidade (na verdade de qualquer um de nós) não se restringe a nosso site e sim a vários locais. É assim que podemos dizer que estamos na rede, em rede.

Desta forma, pense além de notícias, faça vídeos, tire fotos, divulgue o dia a dia da entidade para que qualquer um possa ver que você existe. Não há mais aquela necessidade de vídeos profissionais ou fotos artísticas. Não que elas não sirvam, servem sim, e pendure-­as na web. Mas não se  acanhe de publicar na web aquele vídeo feito com um celular mostrando a inauguração da nova ala dos brinquedos das crianças.

Podemos ir para a captação agora? Acho que sim. E porque só agora? Porque agora você tem uma quantidade significativa de pessoas que
passam pelo seu site, que convivem com você. Antes, aquele folheto institucional virtual estava às moscas. Agora ao menos tem mais gente se divertindo.

Não pense que você vai arrecadar milhões de reais. O importante é ter um mecanismo de arrecadação, mas ele terá maior impacto em campanhas específicas. Esse mecanismo é bastante simples. Basta com adicionar um botão para doações. Hoje empresas oferecem esses mecanismos que concentram doações por boletos, cartão de crédito e depósitos em conta corrente. Você pode também fazer a negociação com cada um dos cartões e cada um dos bancos, mas convenhamos que é mais trabalhoso. A empresa internacional mais conhecida e que também atua no Brasil é a Paypal. O grupo UOL criou algo similar chamado Pagseguro. Ambos sistemas concentram vários mecanismos de pagamento com um único registro. Cômodo para o doador e para a entidade.

Uma instituição que não tem um mecanismo de afiliação por folhetos ou fichas de inscrição pode partir diretamente para o sistema de afiliação on line pulando etapas. Na verdade, captar pela web não difere muito de captar por fichas de filiação. O importante é a forma de fazê-­lo.

Continuamente visito sites de entidades onde consta uma página para doação. Em geral é um texto chato, com um formulário mais chato ainda para preenchimento. Não há nenhum estímulo, nenhum empenho em que a pessoa não desista. Ao contrário, aqueles campos a serem preenchidos parecem campos minados para que mudemos de ideia rapidamente.

Um botão com ”doe agora” tem o mesmo efeito mágico das propagandas de venda direta na TV com o “ligue já”. Não é um pecado envolver o potencial doador com mensagens que o estimulem a agir. Não estamos pedindo reflexão consciente e sim dinheiro. Queremos que o doador aja rápido e devemos auxiliá-­lo nesse procedimento de doação. Perceba que as lojas on line, principalmente as grandes, tem um sistema que facilita a compra. Desde o carrinho de supermercado até campos já preenchidos para que somente tenhamos que colocar o endereço de entrega. Aqui no Brasil são poucas as entidades que captam via web mas principalmente porque também são poucas as que captam com indivíduos. O que venho destacando ultimamente é que é possível queimar etapas. Já que estamos nesse mundo da internet, pois vamos direto ao sistema que facilita nossa vida de arrecadação. Depois que o implantemos, podemos utilizá-­lo para campanhas específicas, vendas de produtos, reservas de mesa para jantares beneficentes, etc. O que não dá é pra continuar naquele modelo de boleto que chega por correio. O que? Sua entidade ainda usa isso? Argh!

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Fonte: Adaptado de Marcelo Estraviz, Um Dia de Captador.

relatorio anual de atividades

Relatório anual de atividades

As instituições sem fins lucrativos que atuam na área de assistência social e que estão inscritas nos Conselhos Municipais de Assistência Social têm a obrigação legal e moral de protocolar anualmente no Conselho o relatório anual de suas atividades. Como estas instituições firmam parcerias com órgãos públicos, recebem recursos públicos e viabilizam o atendimento socioassistencial da Política Nacional de Assistência Social através de parceria público-privada, precisam também atender ao princípio legal da publicidade, um dos pilares do Direito Administrativo, diretriz da condução de políticas públicas.

O relatório deve descrever como foram gastos os recursos públicos ou privados investidos na ONG, ou seja, as ações, serviços, programas e projetos realizados, bem como os resultados alcançados e a quantidade de beneficiários atendidos. Este relatório deve ser objeto de análise e emissão de parecer do Conselho Municipal, ocasião em que são avaliados a forma como os recursos foram utilizados, o retorno proporcionado à sociedade e os impactos causados nos beneficiários.

A Resolução 16/2010 do Conselho Nacional de Assistência Social estabelece que o relatório de atividades anual deve conter, no mínimo, as seguintes informações: a) em relação à ONG executora: finalidades de acordo com seu estatuto social, objetivos, fonte de recursos e infraestrutura; b) em relação a cada serviço, programa ou projeto executado pela ONG: público- alvo, capacidade de atendimento, recursos financeiros utilizados, recursos  humanos  envolvidos,  abrangência  territorial e forma como os usuários participaram durante as fases de elaboração, execução, monitoramento e avaliação do que foi proposto e executado.

Nem todas as ONGs, contudo, entregam anualmente o relatório ao Conselho Municipal de Assistência Social. É comum também a entrega de relatórios sem as informações mínimas legalmente exigidas. Desta forma, infelizmente, muitas ONGs ferem os princípios legais da publicidade e da transparência.


A sua ONG protocola anualmente no Conselho o relatório anual de suas atividades?

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Fonte: Social em foco: ONGs – orientações legais e práticas / Ana Cláudia
P. Simões; Vitória: A Gazeta, 2014.

cidadania ativa

Cidadania Ativa

Este post não é muito prático, trata-­se mais de uma reflexão. Estamos em um estágio intermediário aqui no Brasil. Já não somos aquele país de terceiro mundo, mas ainda vivemos uma das maiores desigualdades do planeta. Não vejo essa desigualdade somente como uma questão financeira. Existe uma desigualdade de direitos: escolas boas e pagas versus escolas ruins e gratuitas. Hospitais excelentes e caros versus hospitais lotados e públicos. Claro, há exceções, por isso digo que vivemos em uma situação ainda intermediária. Não chegamos ainda a uma cidadania plena, uma consciência de nossos direitos e deveres. Vivemos em um país onde uns tem mais direitos que outros. E mal sabemos quais são exatamente nossos direitos e deveres.

Leia mais: A importância da gestão nas ONGs

Eu li a respeito da expressão Cidadania Ativa faz já mais de 10 anos, quando pesquisava para meu primeiro livro sobre captação de recursos. Esse tema não saiu da minha cabeça desde então. É uma ideia forte: que além da consciência de nossos deveres e direitos, tenhamos uma postura ativa na própria sociedade. Essa postura serviria para nos definir melhor como cidadãos. Além de cumprir com meus deveres e beneficiar-­me de meus direitos, desenvolvo ações em defesa de causas que acredito. Isso é basicamente a cidadania ativa.

Veja também: Como as ONGs podem arrecadar mais doações no final do ano

Cada cidadão poderia participar ativamente da sociedade envolvendo-­se em uma ou várias causas. Isso pra mim completa o ciclo de viver em sociedade. Não me habituo à ideia egoísta de que somos somente seres isolados dos outros. Temos geneticamente um sentido gregário: nossas famílias, nossos amigos, nossos colegas de trabalho, nosso time de futebol… Mas parece que esses coletivos que nos definem sempre acabam por fortalecer uma ideia de exclusão: meu time é melhor que os outros, não há nada como minha família, meus amigos são os melhores… Criamos, inconscientemente a exclusão. Nos incluímos em algum coletivo, nos excluindo de todos os outros. E depois falamos sobre inclusão social, sobre a importância dos cidadãos serem incluídos na sociedade. Contra-­sensos.

Leia também: Reflexões para quem pensa em criar uma ONG

Um estudo que li recentemente mostrava que os universitários americanos apoiam em média 1,9 instituições. Arredondando para 2, temos cada universitário americano apoiando 2 iniciativas onde ele atua como voluntário ou doando recursos. Você consegue imaginar a potência de um país onde cada jovem, já no início de sua fase adulta, atua para a melhoria de algo em sua sociedade? Eu não. No Brasil, como disse, ainda estamos as voltas de batalhar por direitos iguais, discutimos pouco nossos deveres, mas com certeza estamos ainda longe de uma postura massificada de envolvimento social.

Veja mais: Mudança de carreira: do mercado financeiro a uma revolução no terceiro setor

A cultura do envolvimento não está presente em nosso país. Campanhas de voluntariado deram a tônica nestes primeiros anos do milênio, mas não há dados que demonstrem uma cultura massificada. Por sua vez, sabemos que há uma cultura da doação, pouco estruturada, mas sólida e em constante crescimento. Não podemos negar que o brasileiro médio se envolve com campanhas de apoio a situações de catástrofe. É anualmente bombardeado por maratonas de solicitação de recursos pela televisão, como Criança Esperança e o Teleton. Nas grande metrópoles, apesar de desaconselhados pelos organismos municipais, há muitas crianças solicitando dinheiro nos semáforos e milhares de motoristas doam suas moedas, o que faz com que as crianças continuem ali. O sucesso dessa arrecadação se prova com as crianças ali. Um modelo absolutamente vicioso, prejudicial às crianças e a sociedade como um todo. Mas não podemos negar que o problema não é exatamente a falta de recursos e sim uma consciência maior por parte dos doadores.

Saiba mais: 6 filmes sobre voluntariado e solidariedade para você se inspirar

Um cidadão ativo seria um cidadão consciente. Não há como sermos conscientes de todas as causas do mundo, mas podemos ser conscientes ao menos de uma ou duas causas que acreditamos. A cidadania ativa é então como nosso curriculum. Eu apoio iniciativas de doação de sangue e de reflorestamento, outro apóia iniciativas com crianças, principalmente as com câncer, um terceiro participa de ações de conscientização da reciclagem. Cada cidadão, tendo suas causas, contribuiria com o todo, se envolveria de forma consciente pelo conjunto da sociedade, mas dedicado a uns poucos problemas dessa sociedade.

Continue lendo: Como ajudar institutos filantrópicos com atitudes simples

O cidadão ativo é também um doador ativo. Não aquele das esmolas, mas o que doa para organizações que conhece e que divulga para os amigos. Sabe as questões principais da causa que defende e se sente feliz ajudando no que pode. E aí vem a importância deste tema: Temos que encontrar esses cidadãos. Eles são nossa maior riqueza, temos que envolvê-­los, capacitá-­los. Sair do ciclo da doação esporádica para doações e participações constantes. Até o ponto onde eles, grande parte deles ao menos, se orgulhe e diga para os outros sobre a causa que ele se envolve e sobre sua ONG.

Veja: Do Grupo Voluntário a uma Organização Formal

Foi-­se o tempo do assistencialismo puro e simples. A filantropia, aos poucos, cede lugar ao investidores sociais, que buscam resultados concretos, não só nos números mas principalmente na garantia de novas autonomias. A defesa de causas se relacionam hoje em dia a estratégias que garantam a saída do ciclo da miséria, nos casos de atendimentos a indivíduos em risco social. Novos mecanismos de garantias ecológicas que também garantam desenvolvimento econômico. Atendimentos de saúde que busquem não só minimizar conseqüências mas também buscar curas, garantir políticas públicas, minimizar danos. As ações sociais hoje buscam aliados nos setores empresariais, governamentais e fundacionais para que, juntos, inovem na solução de problemas. Não se trata de doações ou patrocínios mas sim de recursos que garantam saltos, melhorias, soluções. Esse é o mundo das novas tecnologias sociais, presentes nas mais diversas manifestações de coletivos humanos.

Leia: ONGs apostam em serviços para garantir sustentabilidade financeira

Ao mesmo tempo, sabemos que para cada ação inovadora, existem dezenas, talvez centenas de instituições repetindo as mesmas rotinas de sempre. Não é proposital, mas acaba sendo prejudicial para o desenvolvimento. Milhares de ONGs atuam com parcos recursos, muitas vezes agindo isoladamente, quando poderiam desenvolver pressão por políticas públicas garantidoras. Milhões de doadores ainda contribuem mais por culpa do que por estratégia. E com isso geram a repetição do ciclo, sentindo a ideia de um problema infinito, enxugando gelos imaginários. Milhares de empresas recebem centenas de projetos sociais buscando patrocínios. Não há, em nenhum desses casos citados, um esforço para um trabalho em rede, para a real resolução de problemas. Há uma espécie de competição por recursos ao invés de uma colaboração por resoluções, sejam locais ou temáticas.

Descubra: Qual é a sua causa?

Diz a lenda que todos os problemas do mundo já foram resolvidos em algum canto do planeta, mas não houve até agora um real desejo de buscar, avaliar e reproduzir essas soluções em outros ambientes. Talvez bastaria com que cada um fizesse sua parte, mas que essa parte estivesse conectada a algo ou alguém além dele mesmo.

Mais informação: 8 documentários indispensáveis para quem quer trabalhar com impacto social

Aposto em que em 10 anos estaremos bem mais envolvidos, mais dedicados a causas, mais ativos em nossas participações nas melhorias do nosso país e no mundo. Porque eu acredito nisso? Porque é o que estamos fazendo oras. Você e eu!

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Fonte: Adaptado de Marcelo Estraviz, Um Dia de Captador.

estratégias administrativas para ongs

ESTRATÉGIAS ADMINISTRATIVAS

Toda instituição que vise obter sucesso no mercado em que atua necessita ter bem estabelecidos sua missão, visão e finalidades. Pois somente através da definição de onde se pretende chegar será possível traçar o caminho, o método, delimitar o tempo, mensurar o custo, além de outras condicionantes, para assim iniciar e concluir o percurso.

Esse conjunto de decisões formuladas com a intenção de orientar o posicionamento da entidade para que consiga definir e alcançar seus objetivos é chamado de estratégia.

Veja também: FERRAMENTAS ADMINISTRATIVAS PARA SUA OSC

Portanto, a boa gestão das organizações do Terceiro Setor não se limita apenas à prestação de serviços de qualidade. Também precisam existir planos e estratégias administrativas que envolvam a captação de recursos junto a doadores e financiadores, o recrutamento e capacitação de colaboradores e voluntários, a atração do público alvo, o marketing, o relacionamento com o Poder Público e a sociedade, e todos os demais procedimentos que sejam necessários para colocar em prática a sua missão social.

Leia também: PLANO ANUAL DE CAPTAÇÃO

E como já pudemos verificar em artigos anteriores, o planejamento é sempre a fase inicial do processo.

Veja: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PODE SER APLICADO NAS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR?

PLANEJAMENTO DE LONGO PRAZO

A etapa de planejamento começa com a elaboração de planos de longo prazo, também chamados de estratégicos. A partir da formulação destes é possível a orientação e a formatação de planos de gestão a curto prazo, denominados de táticos, quando a nível de gerência; e operacionais, quando correspondentes à realização das atividades.

O planejamento de longo prazo envolve o estabelecimento dos objetivos mais  gerais da entidade e a formulação dos planos que variam de dois a dez anos. Ao elaborá-lo, a instituição visa definir qual rumo seguir, bem como avaliar preventivamente o ambiente externo no qual ela operará  (identificação de ameaças e oportunidades), e desenvolver estratégias para alcançar as finalidades descritas no estatuto social.

PLANEJAMENTO DE CURTO PRAZO

Esses planos dizem respeito à execução do planejamento para longo prazo que foi previsto para a instituição e à aplicação das estratégias delineadas. Neles são determinadas as providências a serem implementadas de imediato, ou em um curto espaço de tempo, e o impacto previsto dessas medidas. São planos que quase sempre abrangem o período de um ano. Os planejamentos de curto prazo  podem  ser colocados em prática através do plano  de ação, no qual será possível concretizar os objetivos traçados, identificando e definindo:

  • O que será feito? – Determinação dos objetivos, subdivididos em metas, fases e etapas, quando necessário
  • Por que será feito? – Formulação dos indicativos da necessidade, da importância e da justificativa de se executar cada atividade, buscando alcançar os objetivos
  • Onde será feito? – Determinação do local ou espaço físico para a realização das diversas atividades propostas
  • Quando será feito? – Estabelecimento dos
  • prazos para realização de cada uma das fases e metas previstas
  • Quem fará? – Definição de quem será o responsável pelo planejamento, avaliação, realização e controle das atividades
  • Como será feito? – Planejamento dos meios e métodos para a execução, avaliação, e realização das atividades
  • Quanto custará? – Levantamento dos esforços e os custos para a realização das atividades, metas e alcance dos objetivos

O Plano de Ação fornece subsídios para análises técnicas e financeiras de curto prazo, e propicia o controle efetivo das operações, oferecendo elementos para o acompanhamento e o controle referentes ao cumprimento das metas estipuladas pela organização. Quando utilizado como base para a elaboração de projetos, o plano de ação também é denominado de Plano de Trabalho.

A partir dessas informações básicas, já é possível verificar se sua instituição possui estratégias definidas, e se faz uso do plano de ação para alcançar metas e cumprir a sua missão social.

A sua OSC tem estratégias administrativas adequadas?

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Fonte: Gestão para Organizações do Terceiro Setor, Nailton Cazumbá + NOSSA CAUSA.

a importância da gestão nas ongs

A importância da gestão nas ONGs

Muitas ONGs deixam de dedicar um tempo adequado à sua gestão, embora este seja um aspecto que faz grande diferença no  impacto  social dos seus projetos. Para conseguir impacto social, ou seja, resultado sociotransformador perene, a ONG precisa desenvolver projetos tecnicamente planejados e estruturados, e isto só é possível se houver recursos suficientes para o investimento social,  além do monitoramento contínuo e dos ajustes que se fizerem necessários.

Desta forma, algumas atividades precisam ser desempenhadas satisfatoriamente, tais como a captação de recursos, o planejamento das atividades do projeto – necessariamente elaborado em função de seus objetivos -, a escrita técnica do projeto, a avaliação de resultados, a articulação de parcerias, entre outras. Todas estas atividades são prerrogativas e competências do setor administrativo da ONG, que  é  o  setor responsável por sua gestão.

É possível, então, perceber que a qualidade desta gestão está relacionada diretamente com a qualidade dos serviços prestados à sociedade e dos resultados sociais alcançados. Uma instituição sem fins lucrativos que não se preocupa com a qualidade de sua gestão está fadada a não alcançar sustentabilidade financeira e a viver sempre em um cenário de incertezas e de resultados sociais insuficientes.

A qualidade dos serviços prestados é consequência da qualidade na gestão. E a qualidade dos serviços é uma meta que deve ser perseguida, já que se trata de um dever moral do Terceiro Setor. Existem muitos organismos que atestam a qualidade. As normas mais conhecidas são as da ISO 9000, que se referem à qualidade de processos internos, capacitação de colaboradores e satisfação de stakeholders.

Como referência de que a excelência em gestão está ao alcance do Terceiro Setor é  possível  citar  a  Acacci  –  Associação  Capixaba  contra o Câncer Infantil, que obteve recentemente o certificado NBR ISO 9001:2008. A Acacci é um exemplo a  ser  seguido  e  a  certificação  é um diferencial importante para a captação de recursos.

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Fonte: Social em foco: ONGs – orientações legais e práticas / Ana Cláudia
P. Simões; Vitória: A Gazeta, 2014.

EVENTOS DE ARRECADAÇÃO

Evento é sempre bom. É um momento lúdico, pra cima, onde se convive com gente de bom humor, com vontade de conversar e participar. É todo o contrário do nosso dia a dia e da nossa rotina. É o oposto aos dias sérios e complicados que passamos no decorrer da semana.

Leia também: Como as ONGs podem arrecadar mais doações no final do ano

Muitas organizações fazem eventos, mas poucas fazem eventos cujo objetivo primordial é arrecadar. Um evento que não é arrecadador não me parece boa coisa a se fazer. É um hábito a ser extirpado. Muitos me dizem que são eventos de apresentação, de intercâmbio, de isso ou aquilo. Eu retruco que qualquer evento pode ser o que se quiser, mas deve ser, antes de tudo, arrecadador. Pode se cobrar uma entrada, ou pode se vender algo nele, ou pode-­se planejar um leilão, não importa. Um evento que não é previsto para arrecadar corre o risco de parecer desnecessário e gastador.

Leia mais: CAPTAÇÃO DE RECURSOS COM INDIVÍDUOS

Um evento arrecadador precisa, claro, ser bem planejado. O pior dos mundos é quando se planeja arrecadar com ele e o que ocorre é prejuízo. Para isso o melhor é planejar e começar humilde, sem grandes ideias mirabolantes e gigantescas. Não vá começar pensando num evento para 1000 pessoas, nem em arrecadar dezenas de milhares de reais. Comece com um evento que caiba na sua capacidade. Pense no seu aniversário, no seu casamento. Algo entre essas duas coisas, que dê um trabalho menor do que seu casamento.

Veja também: Planejamento Financeiro no Terceiro Setor

Sua instituição deve pensar que um evento deve ter sua continuidade. É melhor realizar um leilão de arte que ocorrerá todo ano do que varias festas diferentes que não conversam entre si. É bom pensar também qual será o evento grande e quais os eventos menores. Um jantar de gala é um evento grande, jantares temáticos podem ocorrer a cada trimestre.

Veja mais: PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PODE SER APLICADO NAS ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR?

Outro tipo de evento pouco utilizado, mas muito interessante, é um seminário ou congresso, algo que tenha a ver com o conhecimento próprio da instituição, caso ela seja uma especialista no assunto. Uma ONG especializada em gênero pode perfeitamente fazer um seminário, convidando inclusive outras pessoas especialistas sobre o mesmo tema para palestrar. Os que pagarão pelo evento serão, nesse caso, estudantes ou profissionais, de um mailing prévio. São eventos mais sérios, mas nem por isso menos agradáveis. São sempre oportunidades de network.

Saiba mais: ONG PROFISSIONAL

Os jantares, encontros, festas, bingos e leilões são os eventos festivos. E como tais, devem levar em conta essa sensação prazerosa de querermos participar.

Veja aqui também: PLANO ANUAL DE CAPTAÇÃO

Não importa o tamanho da entidade, qualquer pode fazer um evento. Uma pequena creche na periferia de uma grande cidade pode realizar um bazar que arrecadará algo suficiente para os gastos de alguns meses. Uma grande organização pode realizar um grande congresso que arrecade mais de um milhão de reais. Sempre recomendo que os eventos façam parte de seu mix de fontes de financiamento, pois assim como os recursos provenientes de indivíduos, eventos trazem dinheiros não carimbados.

Recursos que podem ser úteis para aqueles investimentos não cobertos por projetos, convênios ou patrocínios.

Falando em patrocínios, um evento pode ser patrocinado. Mas não transforme tal patrocínio na única fonte de renda, com ingressos gratuitos. Pois quando se fazem eventos assim, entramos no mesmo problema do dia a dia: buscar parceiros que não financiarão nossa entidade, mas sim nosso evento. Perceba que o problema se repete. Um patrocínio deve ser um elemento adicional ao mix de arrecadação. Bons eventos conseguem bons patrocínios. Mas um bom evento leva alguns anos para ser considerado um bom evento. Por isso, desde a primeira edição, um evento deve ter superávit, com ou sem patrocínio. Pense dessa forma e assim você garantirá a continuidade do evento em novas edições. Se você quer começar com um grande evento, terá um desgaste físico e emocional com altas expectativas e o stress resultante não compensará o resultado final. Pense em eventos que crescem a cada edição, que sejam singelos, simpáticos, com a cara da entidade.

Para saber mais: TERCEIRO SETOR E SUSTENTABILIDADE

Encontre alguém que te ajuda a organizar um evento. Se você cuida de várias outras tarefas, delegue a organização do evento para, se possível, algum voluntário que se anima com a ideia de organizá-­‐lo. Eventos levam meses para serem organizados e não podem ocupar seu tempo normal, correndo o risco de você se dedicar tanto ao evento, que deixa outras posições em aberto. Como conseqüência, o dinheiro ganho no evento não compensa as perdas do dinheiro não ganho em outras situações.

Um evento é também um momento que foge ao padrão do dia a dia a entidade. É quando se reúnem os funcionários, os apoiadores, os conhecidos, e em alguns casos, os atendidos. É o momento “portas abertas” da entidade, e é um momento de celebração. Para quem está fora da entidade, não existe momento mais propício para começar ou ampliar a participação.

Sua OSC faz eventos de arrecadação? A Thomazin Assessoria pode ajudar! Clique aqui para nos enviar uma mensagem e o mais rápido possível entraremos em contato.

Fonte: Adaptado de Marcelo Estraviz, Um Dia de Captador.

Como as ONGs podem arrecadar mais doações no final do ano

No Brasil, o crowdfunding está se tornando cada vez mais popular sendo utilizado por diversos setores como empreendedorismo, gastronomia, cultura e terceiro setor. No ano de 2015, o recorde de arrecadação latino-americano, que ultrapassou R$1 milhão, foi conquistado por uma organização sem fins lucrativos.

As últimas semanas do ano representam uma oportunidade singular para organizações sem fins lucrativos. A fim de aproveitar a oportunidade, as organizações sem fins lucrativos precisam entender quais os fatores impulsionam o aumento das doações no último trimestre.

Durante as festas , as pessoas se tornam mais solidárias com as necessidades das outras pessoas e estão mais dispostas a incluir doações de caridade em suas despesas de final de ano. Algumas estão também olhando em frente para o imposto que deverá declarar no ano seguinte, e sabem que a fim de colher algum benefício fiscal para o ano corrente, eles devem doar até o final do ano.

Se você está buscando doações individuais, contribuições de empresas ou de ambos, a sua campanha de arrecadação de fundos de final de ano enfrenta alguns desafios comuns, incluindo:

  • Competição por doações: Há centenas, milhares de organizações sem fins lucrativos em busca de doações no Brasil e no Mundo. Muitas se restringem apenas à sua comunidade, ao seu bairro, mas outras outras expandem a sua abrangência criando campanhas de arrecadação online para captar doações de todo o Brasil e também do exterior.
  • Competição pela atenção: Os doadores têm muito em suas mentes no final do ano, incluindo o planejamento de férias, compras, planejamento tributário, entretenimento e muito mais. Em novembro e dezembro, pode ser difícil de agarrar a atenção dos doadores.
  • Evoluindo comunicação: organizações sem fins lucrativos têm mais canais de comunicação do que nunca, e isso é bom e ruim. Enquanto mais maneiras de se comunicar com os doadores pode significar mais oportunidades para ganhar seus corações e doações, sabendo quais canais são os melhores para falar com seus doadores é fundamental – e nem sempre é óbvio.
  • A necessidade de uma maior eficiência: Organizações sem fins lucrativos sempre tiveram de fazer mais com menos, e é ainda mais crítico para otimizar a eficiência no final do ano. Converter uma pessoa em doador se torna mais difícil nesta época do ano.

Uma comunicação eficaz, relevante e cativante é a solução para esses desafios. Todos os canais de comunicação devem incorporar visuais atraentes, mensagens claras, uma chamada à ação e múltiplas maneiras para as pessoas a doar. Em seu e-book “Year-end Guia Fundraising Survival”, o Network for Good diz entidades sem fins lucrativos devem:

  • Definir metas específicas, mensuráveis, realistas, exequíveis e oportunas.
  • Iniciativas segmentadas de acordo com dados demográficos do público-alvo.
  • Habilidade no apelo forte, específico, simples e pessoal, que mostre ao doadores o que exatamente a sua doação vai ajudar e como.
  • Ação em tempo hábil.
  • Site compatível para celular.
  • Apelo à emoção, em vez de intelecto.
  • Fornecer várias maneiras de doar, especialmente online.

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Fonte:adaptado de https://www.ongsnobrasil.com.br/marketing/ongs-arrecadar-doacoes-final-do-ano/

Texto original em http://www.business2community.com/non-profit-marketing/leverage-digital-channels-maximize-year-end-fundraising-success-01384200#LRj13OqJlE5xttMo.99

associado ong

Responsabilidades do associado de uma ONG

O requisito mínimo para constituição de uma ONG do tipo jurídico “Associação” é a existência de um grupo de pessoas reunidas em torno de um mesmo ideal não econômico, ou seja, uma ideologia comum e não focada em atividade econômica (comércio ou prestação de serviços pagos). A partir da existência do grupo, ao decidir-se pela constituição jurídica, estas pessoas passam a denominar-se “associados”. Após o registro em cartório, estes associados adquirem direitos e também assumem obrigações que estão previstas no estatuto social da ONG e no Código Civil Brasileiro.

Leia também: Reflexões para quem pensa em criar uma ONG

Ser associado significa que, por livre e espontânea vontade, foi assumida a obrigação legal de  participar  ou,  pelo  menos,  concordar  com as atividades da ONG a que se associou. Por isto é importante a participação efetiva, pois em caso de “desvio  de  finalidade”  o  juiz,  em  um processo civil, pode determinar que as dívidas da entidade sejam estendidas aos bens particulares de associados e não somente aos dos dirigentes da ONG.

Leia mais: Quais são os tipos de ONG no Brasil?

Se uma pessoa deseja colaborar eventualmente, de forma esporádica, mas não dispõe de tempo para participação ativa  nas  atividades  de uma entidade, o recomendável é que ela não se associe e sim, ao invés disso, seja um voluntário ou até mesmo um doador de recursos financeiros. Por isso, é necessário ter a consciência da responsabilidade que há na assinatura de um Termo de Associado.

Veja também: TÉCNICAS ADMINISTRATIVAS PARA ORGANIZAÇÕES DO TERCEIRO SETOR.

Equivocadamente, muitas entidades incluem em seus estatutos uma categoria de associados chamados de “beneméritos”. Geralmente, nesses casos, as  entidades  desejam  apenas  conferir  a  esta  pessoa  um título em agradecimento por relevantes auxílios financeiros. Mas, quando incluem o título de benemérito em uma categoria de associado, as entidades estão inconscientemente atribuindo aos agraciados  com a titulação todas as obrigações e responsabilidades de um sócio, que estão dispostas no estatuto e na legislação. Se o desejo é apenas agradecer e prestar uma homenagem ao benemérito, o título até pode ser criado e ter suas condições estabelecidas  no estatuto, porém nunca deve ser incluído em uma cláusula que trate de associados. O título, neste caso, deveria constar de cláusula específica, para que o homenageado fique resguardado de quaisquer problemas eventualmente gerados pela administração da ONG.

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Fonte: Social em foco: ONGs – orientações legais e práticas / Ana Cláudia
P. Simões; Vitória: A Gazeta, 2014.

geração de renda em ongs

Geração de renda em ONGs

Alguns alegam que vender produtos não é uma tarefa de ONG. Outros entendem que geração de renda é todo o dinheiro que entra em uma instituição. Eu farei um recorte particular aqui. Pra mim, geração de renda em ONGs é a venda de produtos ou serviços e que pode ou não envolver a tarefa de eventos de arrecadação. Feito esse recorte, focarei agora a venda de produtos e serviços, para detalhar eventos em outro momento.

Eu acho que vender produtos ou serviços é uma forma saudável de arrecadação desde que o foco da entidade seja sua causa e não as vendas. Organizar vendas pode perfeitamente fazer parte do mix de fontes de recursos e é, assim como os indivíduos, um recurso não carimbado.

Cabe lembrar que por se tratar de vendas, há a necessidade de oficializar isso e pagar impostos devidos. Se as vendas são de serviços, é necessário pagar ISS, busque informações no seu município. Se vai vender produtos, terá que pagar ICMS então procure informações na secretaria da fazenda de seu estado. Existem organizações que vendem produtos ou serviços e emitem um recibo de doação. Não é a forma correta. Algumas alegam que foi a recomendação da própria administração pública. Pode até ser, pode até que algum servidor, vendo que se tratava de uma iniciativa louvável, recomendou esse “jeitinho”. O comprador não será em nenhum momento punido pelo estado, se comprar algo sem nota fiscal, mas uma entidade pode sim ser multada por vender produtos sem o devido pagamento dos impostos.

Tirando essa questão, que seu contador poderá explicar sem nenhuma dificuldade, vender produtos é algo bem fácil e útil para uma entidade.


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Minha recomendação é que transforme essa tarefa em algo eminentemente arrecadador. Explico: Se sua entidade resolve fazer uma caneca, venda-­a por 15 ou 20 reais. Não se trata de concorrer com uma caneca simples que custa 2 reais no mercado. Deixe claro que a compra da caneca representa uma renda extra para a entidade. E o comprador levará contente uma caneca que representa sua contribuição à causa.

Conheço muitas entidades que fazem uma mistura de sua atuação social com arrecadação de recursos. Darei dois exemplos típicos.

Um é o famoso Brechó. As entidades arrecadam dezenas de roupas e depois as vendem à comunidade carente a preços irrisórios. Eu acho isso muito bacana, mas poderia ser melhor pensado. Poderiam criar dois momentos de arrecadação de peças. Em um momento, fazem isso. Mas 6 meses depois fazem um brechó no bairro dos ricos, a preços baratos mas não irrisórios, e se avisa que a renda irá pra comprar roupas novas para a comunidade, por exemplo. Já vi casacos de couro sendo vendidos por 5 reais para a comunidade quando poderiam ser vendidos a 100 (e ainda assim ser um bom preço) para um jovem empresário. Alguns vão me dizer que eu não estou querendo que os carentes tenham casacos de couro e eu retruco que o que quero é a entidade viva, ajudando os carentes a deixarem de sê-­lo, para um dia comprarem seus próprios casacos de couro em um brechó ou mesmo em uma loja, como fazemos todos.

Outro exemplo é o dos pães. E você pode substituir pães por qualquer outra iniciativa que envolva a produção resultante de trabalhos sociais com jovens ou adultos (pulseiras, bonecas, caixinhas, panos de prato, peças de tricô…). Em geral, por se tratar de um trabalho social, as entidades acham por bem vender essas peças (ou os pães) a preços simbólicos. Enfim, alguns agora vão me matar: Guardem aquelas peças que você não colocaria na sua casa. Ou deem de presente aos que a fizeram. Mas não as vendam. Elas são horrorosas. Não façam barraquinhas com essas peças, fazendo com que as pessoas comprem por pena. Chega de sentir pena e assumir o papel de coitadinho. Se for algo feio ou mal feito, tipo trabalho de escola de seus filhos, guarde como lembrança, mas não venda. Em compensação você pode ter peças incríveis, modelos lindos que funcionaram, padrões de tricô ou panos de prato com um tipo de desenho realmente criativo. Você pode ter um tipo de pão que além de saboroso tem um formato único, só seu. Ou criaram um tipo de sanduíche especial, com o pão especial, que só existe na sua entidade na hora do café. Pegue esses produtos, só esses, e venda-­os a preços especiais (altos). Crie uma coleção especial de panos de prato exclusivos. Faça bonecas tipo exportação.

Isso me fez lembrar uma visita que fiz a uma entidade em Campinas, faz uns 12 anos. Chegando lá vi que essa entidade fazia bonecas maravilhosas e minha filha tinha acabado de nascer. Ela ainda me comentou que muita gente de fora, EUA e Alemanha principalmente, estavam comprando aquelas bonecas. Eu, acostumado a ver produtos bons sendo vendidos a preços de banana, já fui escolhendo a que daria pra minha filha. Quando ela falou o preço, quase caí de costas. Era a boneca mais cara que tinha visto. E ela estava certíssima! Foi meu grande aprendizado. Porque temos que comprar coisas baratas de Ongs? Aquela entidade me abriu os olhos e hoje em dia eu sugiro sempre: Façamos produtos lindos, caros e exclusivos. Pois o dinheiro que receberemos com isso pagará parte do que fazemos para nossa causa, que é linda, cara e exclusiva!

Outro risco que devemos evitar é a especialização nas vendas. Conheci uma entidade que por muitos anos se especializou em vender cartões de natal e com esse recurso financiou seus projetos sociais na zona oeste de São Paulo. Vendiam milhões de cartões todo o ano, para empresas, por catálogo, em barraquinhas em pontos nobres. Seu escritório central era uma verdadeira operação logística. Kombis, stands, sistemas de embalagem, mailings. Mas as pessoas estavam deixando de comprar cartões. Quando os empresários que montaram essa operação nos anos 70 criaram essa fonte de recursos para a entidade, não sabiam que o mundo mudaria tanto e a internet alteraria a dinâmica das relações.

Quem manda cartões de natal hoje em dia? Pois a entidade teve que se reinventar, em prazo recorde. De um ano para outro as vendas de cartões caíam pela metade. Hoje em dia continuam vendendo produtos (agendas, calendários) mas optaram por também buscar recursos com empresas e com indivíduos. Vida longa a essa e a todas as organizações que se reinventam!

Além de produtos resultantes de suas ações sociais (de pães a bonecas) e de promoção (canecas, agendas e camisetas), existem organizações que se especializaram em realizar determinadas ações que tem hoje muito valor no mercado. Posso citar aqui muitos exemplos que presenciei e em alguns casos ajudei a formatar. Uma entidade que trabalha com quimiodependentes era constantemente chamada por empresas para falar sobre abuso de drogas ou álcool além de prevenção. Geralmente essas empresas acabavam por fazer alguma doação para essa entidade, mas nem sempre. E essas doações tinham valores que variavam de um punhado de reais a alguns milhares de dólares. Combinamos fazer algumas experiências, formatando essas palestras e oferecendo-­as a empresas da região pelos mesmos preços que pagavam por outras palestras. Focamos a divulgação dessas palestras nos departamentos de RH das empresas e com algumas fizemos conversas mais profundas.

Perguntamos se achavam justo o preço, se consideravam isso um produto, se nos ajudariam a divulgar para seus mailings de redes de profissionais de RH, etc. Em poucos meses começaram a surgir os pedidos e aquelas doações esporádicas de valores variados passaram a se transformar em um serviço prestado, com uma demanda clara, por um valor específico.

Quando uma ONG se especializa bastante em um determinado assunto é o caso de analisarem se esse conhecimento adquirido pode ser transformado em produto para terceiros. Isso pode acontecer com ONGs especializadas em gênero, por exemplo. Os serviços podem ser meras palestras, como o exemplo que dei, ou mesmo consultorias mais trabalhosas. O importante é não fazer disso sua única fonte de receita para não correr o risco de você se transformar em uma empresa com fachada de ONG. Vender produtos ou prestar serviços é meramente mais uma fonte de recursos. E deve ser aproveitada. Ultimamente tem sido debatido pelo mundo um novo conceito, a empresa social. Talvez algumas das iniciativas de hoje se transformem em empresas sociais. Mas eu tenho certeza que muitas causas ainda necessitam de defensores através de ONGs. E eu não me incomodo em comprar uma caneca como apoio a uma ONG. E você?

Fonte: Adaptado de Marcelo Estraviz, Um Dia de Captador.